Ref.: 583
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Prezado(a) leitor(a), se este livro está em suas mãos agora, eu já te considero um profissional diferenciado. Isso significa que você percebeu que algo mudou na Odontologia, algo mudou nos seus pacientes, ou algo te incomoda na sua percepção clínica no futuro. Antes de te apresentar este livro, eu te convido a retornar no tempo, e por alguns minutos relembrar dos seus 2 primeiros anos de graduação. Não importa se sua graduação foi na década de 70, 80, 90, não importa se foi no ano passado. O que vamos refletir juntos é aplicado para os atuais alunos de graduação, para recém-graduados ou até para cirurgiões dentistas com mais de 40 anos de profissão. No início do seu curso de graduação, você estava sendo capacitado para atuar de forma preventiva, coletiva e social. Uma das disciplinas que considero mais importante na nossa formação estava sendo ministrada: saúde coletiva/ odontologia preventiva/prevenção aplicada à Odontologia. Dentre as atividades obrigatórias que você teve que cumprir nesta disciplina como aluno, estavam
(A) orientação do paciente com relação à saúde bucal e (B) ensinar os hábitos saudáveis para prevenção de doenças bucais. Este processo de ensino foi aplicado para estimular você, ainda aluno, a educar a sociedade, ensinar pacientes adultos e principalmente crianças e adolescentes para a prevenção de doenças bucais. O que você ensinou para eles? O que você apresentou e alertou? Acredito que você ensinou a importância da prática correta de higiene bucal, técnicas de escovação, a importância de cremes dentais e enxaguantes bucais fluoretados e a existência da placa bacteriana, doenças cariosas e inflamatórias como a gengivite e a periodontite. Existe algo errado no que foi ensinado e praticado? Claro que não. Mas estava e, infelizmente, ainda está incompleto. Você não foi capacitado para educar e ensinar os hábitos saudáveis das doenças bucais que, atualmente, são mais incidentes na nossa rotina clínica. Não aprendemos a ensinar nossos pacientes e a sociedade a praticar prevenção de hipersensibilidade dentinária, como prevenir recessão gengival, como prevenir lesões não cariosas, como prevenir necrose pulpar asséptica, e como evitar o avanço de trincas dentais. Lembre-se dos seus últimos 20 pacientes. Quantos apresentaram lesões cariosas primárias com grande exposição dentinária,
periodontite e/ou pulpite provocada por cáries profundas? A geração de pacientes com mais de 30 anos de idade e nenhuma doença cariosa ou periodontal de origem bacteriana na cavidade oral está frequentando as nossas clínicas há muito tempo. Isso é fruto de um trabalho muito bem executado pelas gerações de dentistas nas últimas décadas combatendo as doenças bucais de origem bacteriana. Mas o que está incompleto no ensino? Continue refletindo comigo: a maioria dos seus pacientes que reclama de dor dental não sofrem de pulpite. A maioria dos pacientes que procuram tratamento endodôntico não possuem cáries profundas. A maioria dos pacientes que apresentam exposição precoce de dentina radicular não apresentam bolsa periodontal ou sangramento durante a sondagem.
Para aprender a prevenir uma doença, o profissional necessita entender primeiro quais são os fatores etiológicos desta doença, como identificar os sinais e sintomas na fase de diagnóstico e como educar o hospedeiro da doença a praticar hábitos saudáveis para o seu controle e prevenção. E é neste momento que te peço pela última vez para refletir comigo: quantos dentistas consideram que a recessão gengival presente em um paciente jovem é uma doença periodontal? Que recessão gengival é a doença periodontal mais incidente e mais impactante da nossa era, pois ela se desenvolve principalmente em pacientes que praticam a higiene bucal de forma correta e apresentam “boca limpa”. Quantos dentistas consideram que a hipersensibilidade dentinária associada ou não às lesões não cariosas é uma doença? Algo patológico que vem impactando de forma negativa a qualidade de vida dos pacientes nas últimas décadas. Quando o profissional erra o diagnóstico, ele erra no planejamento, erra no tratamento e erra na proservação. A maioria dos cirurgiões dentistas graduados no ano passado, os quais vão trabalhar nas décadas de 2040 a 2060, não foram totalmente capacitados para acolher os pacientes com doenças não cariosas, ou seja, aquelas doenças bucais que não dependem dos hábitos de higiene bucal para serem formadas ou evitadas. Durante 15 anos, o time de pesquisa e estudos clínicos LNC/UFU Uberlândia MG, colaboradores de outras instituições, pesquisadores, professores e alunos têm dedicado tempo e energia para mapear e decifrar doenças bucais de origem
não bacteriana. Nos últimos 5 anos, algo já era muito evidente para o nosso time, e uma nova fase na nossa história clínica foi escrita: as Doenças Não Cariosas (DNCs) atingiram os pacientes mais jovens, adolescentes zero cárie com limitações de convívio, alimentação e higienização devido à sensibilidade dental. Pacientes jovens com exposição de dentina em larga escala, provocando alterações de dimensão vertical e estética do sorriso, recebendo indicação de tratamento endodôntico e/ou implantes dentais, sem nunca ter apresentado lesões cariosas ou doenças periodontais inflamatórias. Observamos uma mudança radical no hospedeiro de doenças bucais, e percebemos que a cavidade oral estava sofrendo alteraçõessignificativas, como reabsorções ósseas aceleradas, danos articulares precoces, altos índices de hipersensibilidade dentinária, exposições precoces de dentina radicular e coronária, alterações salivares, perda acelerada de esmalte, entre outros. Estes eventos não eram comuns nas décadas de 80 e 90. Ou seja, algo aconteceu nos últimos 20 anos. E com certeza está relacionado à mudança do estilo de vida da sociedade. Procuramos auxílio em outras áreas, como a Psicologia, Gastroenterologia, Medicina e Odontologia do Sono, Medicina e Odontologia do Esporte, Psiquiatria, Engenharia Biomecânica, Bioquímica, Nutrição, Bioengenharia, entre outras. Percebemos que outras doenças de origem não estomatognáticas associadas a novos hábitos e transtornos e, de forma associada, estavam alterando as funções e o equilíbrio da cavidade oral. Está claro para todos nós que o nosso desafio não é apenas ensinar os cirurgiões dentistas sobre as novas doenças bucais de origem não bacteriana, mas sim, alertar a sociedade, os profissionais da área da saúde, incluindo o cirurgião dentista, que as doenças de
diferentes origens estão atuando simultaneamente no mesmo indivíduo, acelerando o envelhecimento das estruturas bucais em pacientes jovens com vários fatores de risco já detectados e outros ainda desconhecidos. Estamos de frente para a Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal (SEPB). Nos últimos 05 anos, dedicamos nossos esforços para catalogar o quanto este novo estilo de vida e doenças de origem não estomatognáticas influenciam na saúde bucal e na evolução dedoenças não cariosas. Estamos recebendo pacientes sindrômicos diariamente na nossa prática clínica, e infelizmente, perdemos a oportunidade de observar, compreender, diagnosticar e prevenir de forma correta os desfechos da SEPB e como tratar as DNCs. Agora, mais do que nunca, deveremos praticar odontologia clínica com abordagem multiprofissional, pois as DNCs e a SEPB não podem ser completamente prevenidas e tratadas apenas com ações odontológicas. Necessitamos de atuar integralmente com outras áreas, sem perder o nosso protagonismo como profissionais. O contexto da doença bucal e estilo de vida do hospedeiro mudaram, portanto, a odontologia precisa mudar. Provavelmente você lerá neste livro informações e conhecimentos que confrontam com aquilo que você aprendeu.
Peço que se permita evoluir. Não existem verdades absolutas, mas este é um convite para a evolução contra a SEPB. Por isso, preparamos um livro com 11 capítulos, associando profissionais de diferentes áreas, com foco no diagnóstico, prevenção, reabilitação funcional e estética de pacientes com SEPB. Cada capítulo foi elaborado com muita dedicação para potencializarmos as ações do dentista na sua rotina clínica. Se você está aqui, saiba que você é muito importante e muito bem-vindo! A Odontologia do futuro depende da sua evolução. Te desejo uma ótima leitura, e quero que você acredite que toda mudança na sua prática clínica atual vai impactar a saúde bucal da sociedade no futuro.
Sumario:
Capítulo 1 - Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal (SEPB)
Capítulo 2 - Diagnóstico da SEPB: Checklist, Sintomas e Sinais Clínicos Bucais
Capítulo 3 - Transtornos Psiquiátricos e seus Efeitos no Envelhecimento Precoce Bucal
Capítulo 4 - A Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal e sua Relação com a Qualidade do Sono e Distúrbios Relacionados ao Sono
Capítulo 5 - Doença do Refluxo Gastroesofágico e sua Relação com a SEPB
Capítulo 6 - Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal e Odontologia do Esporte
Capítulo 7 - Dieta e Hábitos Alimentares no Agravo à Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal
Capítulo 8 - Doenças Sistêmicas e Outras Síndromes Associadas à Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal
Capítulo 9 - Diagnóstico e Monitoramento Através da Saliva para Pacientes com SEPB
Capítulo 10 - Reabilitação Funcional e Estética de Pacientes com SEPB
Capítulo 11 - Perspectivas Futuras sobre a Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal